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04/06/2008 11h12
NA OLARIA (PA)LAVRANDO PÓ
NA OLARIA (PA)LAVRANDO PÓ
(Conjuração do Verbo com Sofia (zocha)))
A palavra as vezes
matéria, líquen,
corpo do meu corpo,
sal que sai de mim e me volta,
regurgito -a!
É dessa miserável
condição humana esse atrito,
dessa palavra polissêmica,
árvore de pele descascada,
de faces doídas, multifacetadas,
de versos apagados, senhas borradas,
ah...dói palavra, dói,
tua cara minha cara,
mal lavada,
simulacro, meus cacos,
cadencia de mim enrodilhada,
deste cordão umbilical, letal,
prolongado éco dos meus abismos...
gravitação dessa hodierna
loucura, essa insólita palavra,
só minha, privativa linguagem,
quiromancia de funduras,
perdidas palavras, rupturas,
trilhas íntimas, águas turvas,
recurvas do mesmo, partituras?!
Na Olaria, a bilha quebrada,
só teus rumores sob o halo de fogo
do cinzel!....
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Publicado por Lilian Reinhardt em 04/06/2008 às 11h12
26/05/2008 23h15
VERBO OBSCURO
VERBO OBSCURO
(Conjuração do Verbo com Sofia (zocha)))
Sou extremamente desconfiada de mim, então, desconfio das palavras. Desconfio da teia das palavras, dos pontos, das pinças, desconfio das rinhas que frequenta, a palavra afunda meu espaçamento, o meu ser tempo, me oculta, me engedra, me respira, mas, não me compreende nem eu a compreendo. Devo ser-lhe uma caixa oca, com uma ressonância louca de estupefação de gritos ancestrais da minha maturidade, violentada no meu tempo/espaço. Não bordejo, nem vaquejo, me enredo entre sinais que contesto. Se é habitação me descuido de habita-la, se me resvala, caio na sua vala, afundo na rala. Desconfio da palavra, me recuso a entende-la, tento verga-la como o junco, quebra-la com o cinzel, bebe-la do tonel no cálice das minhas sangrias, mas, me asfixia, me endemonia, me lanha, me verte e não me submete, não lhe faço rogo, não me penitencia, não lhe considero verso puro, fico sempre atrás dela, desconfiadamente, com meu olho aberto no escuro, sangrando o meu verbo oculto...
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Publicado por Lilian Reinhardt em 26/05/2008 às 23h15
26/05/2008 17h56
POEMA ( COM BORGES)
ARTE POÉTICA
( Jorge Luis Borges/tradução de
Rolando Roque da Silva)
Mirar o rio, que é de tempo e água,
e recordar que o tempo é outro rio,
saber que nos perdemos como o rio
e que passam os rostos como a água.
E sentir que a vigília é outro sonho
que sonha não sonhar, sentir que a morte,
que a nossa carne teme, é essa morte,
de cada noite, que se chama sonho.
E ver no dia ou ver no ano um símbolo
desses dias do homem, de seus anos,
e converter o ultraje desses anos
em um música, um rumor e um símbolo.
É ver na morte o sonho, e ver no o acaso
um triste ouro, e assim é a poesia,
que é imortal e pobre. A poesia
Retorna como a aurora e o ocaso.
Às vezes, pelas tardes, uma face
nos observa do fundo de um espelho:
A arte deve ser como esse espelho
que nos revela nossa própria face.
Contam que Ulisses, farto de prodígios,
chorou de amor ao avistar sua Ítaca
humilde e verde. A arte é essa Ítaca
de um eterno verdor, não de prodígios.
Também é como um rio interminável
que passa e fica e que é cristal de um mesmo
Heráclito inconstante que é o mesmo
e é outro, como o rio é interminável.
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Publicado por Lilian Reinhardt em 26/05/2008 às 17h56
22/05/2008 19h07
IN LARVA
IN LARVA
(líricas de um evangelho insano)
Nas esferas fundas do lodo
a flor úmida se revolve
larva, não lhe pergunte de lírios!
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Publicado por Lilian Reinhardt em 22/05/2008 às 19h07
17/05/2008 12h43
A SALGA
A SALGA
(líricas de um evangelho insano)
O lodo dos pântanos respira e me salga por dentro.
Sob a escuridão, vozes do sertão,
Olhai meus lírios de sangue!
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Publicado por Lilian Reinhardt em 17/05/2008 às 12h43
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