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Sensíveis Cordas!

Meu Diário
26/05/2008 23h15
VERBO OBSCURO




             

                                          VERBO OBSCURO

                                              (Conjuração do Verbo com Sofia (zocha)))


                Sou extremamente desconfiada de mim, então, desconfio das palavras. Desconfio da teia das palavras, dos pontos, das pinças, desconfio das rinhas que frequenta, a palavra afunda meu espaçamento, o meu ser tempo, me oculta, me engedra, me respira, mas, não me compreende nem eu a compreendo. Devo ser-lhe uma caixa oca, com uma ressonância louca de estupefação de gritos ancestrais da minha maturidade, violentada no meu tempo/espaço. Não bordejo, nem vaquejo, me enredo entre sinais que contesto. Se é habitação me descuido de habita-la, se me resvala, caio na sua vala, afundo na rala. Desconfio da palavra, me recuso a entende-la, tento verga-la como o junco, quebra-la com o cinzel, bebe-la do tonel no cálice das minhas sangrias, mas, me asfixia, me endemonia, me lanha, me verte e não me submete, não lhe faço rogo, não me penitencia, não lhe considero verso puro, fico sempre atrás dela, desconfiadamente, com meu olho aberto no escuro, sangrando o meu verbo oculto...



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Publicado por Lilian Reinhardt em 26/05/2008 às 23h15
 
26/05/2008 17h56
POEMA ( COM BORGES)



                      ARTE POÉTICA
                
                            

                                
                                           ( Jorge Luis Borges/tradução de
                                          Rolando Roque da Silva)
               


               Mirar o rio, que é de tempo e água,
           e recordar que o tempo é outro rio,
           saber que nos perdemos como o rio
           e que passam os rostos como a água.

          E sentir que a vigília é outro sonho
          que sonha não sonhar, sentir que a morte,
         que a nossa carne teme, é essa morte,
         de cada noite, que se chama sonho.

        E ver no dia ou ver no ano um símbolo
        desses dias do homem, de seus anos,
        e converter o ultraje desses anos
        em um música, um rumor e um símbolo.

       É ver na morte o sonho, e ver no o acaso
       um triste ouro, e assim é a poesia,
       que é imortal e pobre. A poesia
       Retorna como a aurora e o ocaso.

      Às vezes, pelas tardes, uma face
      nos observa do fundo de um espelho:
      A arte deve ser como esse espelho
      que nos revela nossa própria face.

      Contam que Ulisses, farto de prodígios,
     chorou de amor ao avistar sua Ítaca
     humilde e verde. A arte é essa Ítaca
    de um eterno verdor, não de prodígios.


     Também é como um rio interminável
     que passa e fica e que é cristal de um mesmo
     Heráclito inconstante que é o mesmo
     e é outro, como o rio é interminável.




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Publicado por Lilian Reinhardt em 26/05/2008 às 17h56
 
22/05/2008 19h07
IN LARVA



                           IN LARVA

                   
                              (líricas de um evangelho insano)

 

          Nas esferas fundas do lodo
         a flor úmida se  revolve
         larva, não lhe pergunte de lírios!





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Publicado por Lilian Reinhardt em 22/05/2008 às 19h07
 
17/05/2008 12h43
A SALGA





                                A SALGA


                                    (líricas de um evangelho insano)


                          O lodo dos pântanos respira e me salga por dentro.
                    Sob a escuridão, vozes do sertão,
                     Olhai  meus lírios de sangue!
                          





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Publicado por Lilian Reinhardt em 17/05/2008 às 12h43
 
13/05/2008 21h56
UM GOGÓLICO DESTEMPO COM ZAVADSKI



                                    UM GOGÓLICO DESTEMPO COM ZAVADSKI



                        Ele era destempo, destemperado e gogólico, empunhava a batuta, era
pesado, monódico, monolítico, pisava firme, afundava o chão e parecia um engolidor de almas.
Ele era um destempo impróprio à paradoxos de carnaduras, chegava sempre pelo longo corredor
da caverna e por aquela goela de turbilhonante ansiedade dizia: - A profanação retempera  os desejos, recompõe heresias, é preciso reconfrontar texturas, libertar-se
do caminho original, do caminho paternal, os animais nas passagens quebram as bilhas na busca pela água e comida. Na opressão da caminhada, no pastoreio, rompem volteios, fogem de velhos comboios que encontram ao acaso nas estradas, escapam das similares prosas do mundo. Puxa a corda umbilical do pião - completava, fugaz é o gozo da humana condição. E arrematava a prosa em silêncio, sem leilão: - O homem é um forjador de linguagens e no remoinho da história o lugar é de combates. Avante animais,
para o abate! No fundo, talvez, o verbo esse sôpro de ruídos profanadores seja apenas
um tempo de conjugação de incompletudes, do grunhido das coisas, um tempo de recrias, da palavra
sempre grávida e do animal grávido, uma alquímica forragem!...


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