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imagem/Aroldo Botega/Artesania em madeira Curitiba/PR Uma mesa
Memoriais de Sofia/Zocha
Era uma mesa de madeira com gaveta para talheres e fazia parte de um jogo de cozinha com quatro cadeiras, caixão para lenha e um guarda-comida azul. Seu tampo era de cerne de madeira virgem, cheirando à araucária viva. Era uma mesa que pensava, que nos olhava e que ajoelhava-se para que nós fizéssemos a ceia em seu colo.Quando a mãe a lixava com pedra ficava com a pele mais alva ainda e sensível e talvez até chorasse sem que víssemos.Era o anteparo para o nosso encontro com as substancias de nós mesmos e os objetos que ali nos esperavam como nossa extensão. No quadrado da cozinha, a roda daquela mesa girante nos girava e recolhia-nos como numa cerimônia em derredor de uma linha mítica e ancestral. E nesta espiral uma geometria sem conceitos quando o trigo se esparramava sobre as taboas e a mãe amassava a farinha com a vida, a morte e suas raízes. O que pode se depositar sobre uma mesa? Para que serve uma mesa? Uma mesa é um anteparo de ceia e de deserção e pode ser um lugar e um tempo onde acontecem o encontro, a partilha e também a separação das substancias. As substâncias invisíveis que habitam as palavras das coisas e o espírito da fome. www.lilianreinhardt.prosaeverso.net/visualizar.php
Lilian Reinhardt
Enviado por Lilian Reinhardt em 01/12/2010
Alterado em 06/12/2010
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