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Sensíveis Cordas!

Textos


foto/L.Reinhardt
   Lago da alma no tempo/II
     

               (Memoriais de Sofia/Zocha)

           ... sabugueiro do meu quintal, catedral verde donde repicam os  sons de tua abside e donde vejo levedar  de  tua nave  a noite semeada.../diz-me de onde vens e para onde vais? (LR)

Um dia, não distante de léguas ou acasos, descreio de acasos, o universo é sábio e conscientee cada formiga é única como diz Borges, pois que a Essência dela necessita para execução de suas precisas leis que regem Seu curioso universo” (*)
eu a vi plantar uma mudinha verdinha e raquítica de uma árvore chamada  sabugueiro,  na terra árida, que ela adubara durante longo tempo com esterco de galinha de suas hortas em   seu  quintal de araucárias e bem-te-vis. Plantou o pequenino ramalhete  como planta medicinal para proteger as suas crias. A árvore cresceu, agigantou-se, tornou-se adulta, entroncou-se, deitou raízes ameaçando derrubar muros, romper cercas e irrompeu com seus mil braços sobre o telhado da velha casa de madeira, abraçando o seu ninho e os filhotes e criando novos nichos sobre a realidade seca de muitas estações. Mas,  numa manhã repentina, com o nascer do sol,  aquela  semeadora que a plantara foi convocada após dolorosa enfermidade, para uma outra seara em nova dimensão   e como uma garça branca levantou vôo do ninho e este vôo de branca ave eu vi em sonho pouco antes dela deixar a realidade dos meus cinco sentidos.Hoje, na madureza provedora, no entremeio das rendas e das folhagens desse  pé de sabugueiro único, entroncado e desgastado e já apresentando sinais dos tempos, quando a lua ilumina com seu farol as noites geladas desta aldeia, vejo fervilhar uma plantação de sonhos em seus braços e espigarem   escritos plantados sob o pergaminho de seus troncos, como  legado de sementes, pois os sonhos são plantas que só nascem e vingam sob a madeira de cerne do fiel que nos pesa os sentidos da realidade.  E, quando chega a primavera esta árvore  entrega-se à própria florada da alma e  transforma-se num imenso bouquet, recebendo as abelhas que vem retirar do néctar da generosidade de sua fonte     silenciosa o sumo para modelar o cântaro de suas colméias, enquanto as borboletas, os pássaros, os marimbondos, desafiam os véus da cela do meu olhar inquisidor. Um dia  aconcheguei-me entre seus braços  e depositei em seu colo- para que abençoasse- um bouquet  de rosas vermelhas  antes de enviá-lo a quem  nunca o esperava .A velha árvore olhou-me, sorriu e deitou uma lágrima de tépido orvalho sobre o chão e senti a sua quentura espinhar-me  os pés descalços sob a  terra úmida.  Ela sabia das coisas, seu coração me contava  sempre e  ainda me conta...
 
(*)
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Lilian Reinhardt
Enviado por Lilian Reinhardt em 27/10/2010
Alterado em 30/10/2010


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