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Sensíveis Cordas!

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UMA CANTIGA PARA NHÁ LICA/CANTO & CHÃO


                                     



                (velha casa do Entre-Rios, trilhas de    Guarapuava/PR)
                   (À  Eulália de Oliveira Galvão -  Nhá Lica - tia lili)
       

Mesa de madeira bruta de pinho
lavado,  pão feito em casa, levemente tostado,
pincelado com gema de ovo, assim criavam-se as nuances
sobre a massa amanteigada, suavemente
outonecida...

Nhá Lica aparava com carinho as beiradas
e o fatiava com a faca serrinha de cabinho
de madeira. A manteiga sempre mergulhada
na vasilha com água fresca derretida,
escorrendo sobre as fatias...

Manteiga com gosto e cheiro de nata
e lá de fora entrando pela pequena janela,
o odor de esterco fresco misturava-se
com os berros do bezerro separado da mãe,
pra colheita do leite.


O vento ao longe roçava os cabelos dos chorões
e passeava dolente por entre as taças
das dantescas araucárias que se enfileiravam
na linha do horizonte. 

A casa de Nhá Lica era pequenina...
sem vidraças, com janelas entalhadas à mão e enormes
folhas de fechar de madeira bruta. Cada uma delas
parecia uma fenda escavada numa caverna escura
pra espiar os mistérios do mundo!

Nos fundos, num pequeno alpendre, uma bacia 
esmaltada sob o aparador enferrujado, com sabonete
Gessy cor de rosa, já tão gasto...único talvez encontrado
na venda mais próxima, de Nicanor, 
futuro sogro do filho Neuri.

No prego, uma toalhinha branca, simples, dependurada,
já gasta e esfolada de tantas lavagens com sabões
de soda. Lavo as minhas mãos. Passo manteiga 
no pão, ela escorre sob minha imaginação...

Vejo os olhos raros de minha tia, verdes violáceos,
ouço ainda a sua voz canora, sinto o seu olhar
mirando-me...mirando-me...achava-me parecida com seu irmão, meu pai,  o qual tanto amava que apanhava no lugar dele quando este fazia traquinagens,quando assumia ela a autoria do que ele fazia por ama-lo!


Não esqueço de 
seu jeitinho peculiar de pegar um cigarrinho
de palha e sorver a fumaça a fundo...e fechar os olhos,
arcadinha, sentadinha na cadeira de palha na varanda,
as meias compridas enroladas abaixo dos joelhos tão alvos,
sinto saudade de seus cabelos brancos, macios, de suas
pequeninas mãos que cobriam-me os pés à noite,

quando vigiava o meu sono debaixo daquele frio
intenso, que chegava a congelar as águas dos baldes
e das gamelas...
sinto falta de suas pequeninas e delicadas mãos para
pedir a benção...  " BENÇA TIAAA!!!"...

Soco o meu coração e a lágrima escondo no
coxo sensível das cordas da minha alma!...




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Lilian Reinhardt
Enviado por Lilian Reinhardt em 10/04/2008
Alterado em 28/04/2009


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