Toulouse-Lautrec: A toalete (1896)
óleo s/papelão, 067 x 0,54 m
Museu D'Orsay. Paris
HENRI DE TOULOUSE-LAUTREC E A METAMORFOSE DE UM 'ESBOÇO CORTANTE' NA ARTE
Toulouse-Lautrec é o pintor da fugacidade do teatro de variedades humano. Diz Argan que foi o pintor de MontMartre e das luzes da ribalta em fins do século XIX, companheiro dos impressionistas, de Van Gogh na academia Julien.
Herdeiro de uma família da nobreza, nasceu acometido de uma doença genética que impediu o desenvolvimento de sua estatura física, drama esse acentuado por uma queda na adolescência.
Toulouse abandona o seio tradicional familiar, rejeitado, criticado, passa a conviver e faz morada em cabarés. Argan salienta que a grafia e a pintura de Toulouse foram comparadas às narrativas de Guy de Maupassant pelos seus esboços cortantes da realidade e golpes de luz. Efetivamente Toulouse desfecha seu olhar conciso e de naturalidade e capta além da sensação visual pura o perfil do estímulo psicólogico das coisas e do mundo. Não prefere a pintura, mas o meio rápido do desenho para registrar a lassidão e o tédio do quotidiano das ilusões humanas da ribalta e sua coxia. Faz uma transmutação da fragmentada pincelada impressionista da pintura para um penetrante traço colorido, onde faz incisões cortantes das formas do mundo. Desenha e registra o quotidiano da vida mundana, dos cabarés, do Moulin Rouge, do teatro can-can, da solidão da busca , do desespero humano na ribalta. A miséria do sofrimento é a mesma na coxia de quatro paredes do castelo de seus pais quanto no palco dos cabarés, porque ela não está afinal em lugar em nenhum, mas, em suas sensações, em suas percepções, dentro dele, por tudo isso para Toulouse a comunicação visual prevalecia sobre a representação, era instântanea, imediata, efemera, o espaço lhe era fugidio, um plano movediço como o tempo onde simplesmente as coisas dançavam, deslizavam. Toulouse, fisicamente um anão-feio, tal qual Gregor Samsa de Kafka, observa de sua plataforma deformada, através das alegres superfícies as cenas hipócritas da ribalta, os atores do mundo, lançando-lhes um olhar impiedoso e agudo, não importando o plano da coxia, se pública ou doméstica nem ele se poupa em muitas de suas obras. Visionário, intuiu o cartaz e foi o primeiro a desenha-los, aos quais dava mesma importância que seus quadros. A vida em sociedade se modifica pela pressão dos impulsos psicológicos, e Toulouse privilegia seu olhar e experimentação poética do mundo efêmero do teatro de variedades. Metamorfoseado, seu olhar desliza pelas paredes do tempo, infiltra-se pelas janelas da atemporalidade dos sentimentos nos deixando um legado de significações experenciais da condição humana, experenciada sob uma ótica onde espaço e tempo parece não ser mais que um vão entre o pano de fundo da vida e seus totens humanos...
Bibliografia
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. Cia das Letras. SP:1988
H.W.JANSON E OUTRO. História da Arte. Martins Fontes. SP: 1987