À MEIA LUZ
Sou gota grão
vento brisa sopro
venho de lugares ermos
de vinhos decantados
escondo-me ora inseto
casulo camuflado
Nos meus invernos irados
nao preciso de metaforas de ninguem pra este canto alado
neste meu prato salgado
do amor conheci a salga
o prurido a ferida
mil traições do verbo
expurgado
as vezes de sono vestida
em sepulcro vivo
ja me trai e mostrei o prato da minha dor
O intimo alimento
ao mundo escarrado
nao me fale de poesia de maionese de amor
de amor de outras vidas
sobre a miseria desse campa
fugaz
Minha vida de inseto é curta
dá-me da beleza de tuas horas
mesmo quando as jogas no lixo
quando mamas nas tetas
das piranhas do verbo roubado
O verso da vida nao perdoa
os viciados e mendigos
Basta-me ouvir o revoar
dos passaros fujo de mim
eu debaixo da ponte
de emboscada na minha esquina
a meia luz do poste
na rua deserta
as vezes festa
preso na sola do sapato
pedrinha de rua
nunca ladrao nem traira
apenas larva de um po mal soprado