Uma vez meu poeta
me disse de decantamentos
da língua das origens
Que quem se aprofunda dos verbos do poço aprende da árvore das águas e das funduras de Bach
Nao tardou em eu descobrir que
as bicas em meus vasos decantavam
que minha casa era salgada de sonhos
e a pereira em flor sempre pressentia remoinhos
que eu sempre viajava na fumaça de
Maria pra não sonhar a dor
do ferrão da vida e suas tetas de cinzas
mas ter cuidado com a dor que alivia as sementes de sal do poema era preciso muito
e que soprar sempre infinitudes
longe de palavras desajustadas de vestes
é se descobrir na salga das palavras do ventre
estudar um pouco na academia de Platão me fez aliviar também um pouco as dores das metáforas
e as urdiduras das teias
eu que vivo aprendendo da metafísica dos sapos
dos sons dos besouros de Pitágoras
escrevo na minha lápide para destelhar a chuva
e cinzelar minha metamorfose no meu barro do chão
A saga dos meus pés descalços me alimenta
O ferrão da vida nunca desabrocha ontem nem amanhã
sou mesmo uma floresta aconhegada de
brumas