foto/Lilianreinhardt
(Memoriais de Sofia Zocha)
Até que o trem parasse na próxima estação a gente ficava de substanciada ansiedade. Maria fumaçeava noite adentro esparramando fagulhas de vagalumes fugidios debulhando a escuridão. Vá compreender que coragem era aquela de se entregar assim...O apito anunciava que o carilhão dos trilhos iria zunir mais forte ainda, quando proximamente ela pisasse sobre as linhas dos pontilhões construídos sobre abismos trabalho da hábil engenharia moderna de planejamentos ferroviários. Disso ela nada entendia, que as linhas se dobrassem sobre os abismos, via de longe suas curvas perigosas...e as bocas dos túneis onde só se ouviam os guisos da grande áspide irrompendo e mordendo a escuridão... Doce mesmo era aquele embalo dentro, mesmo no vagão-leito, Zocha sentada sobre a cama beliche, a cabeça encostada na parede...ou de janela aberta, no escrutínio fugidio do escape da vigilância de Frau mãe, a escuridão entrando olhos adentro, com seus deslumbres, o mistério das imagens se decompondo e a escritura das fagulhas...
Lilian Reinhardt
Enviado por Lilian Reinhardt em 13/10/2012
Alterado em 13/10/2012