LilianreinhardtArte.prosaeverso.net

Sensíveis Cordas!

Textos


untitled
bico de pena/1994
Lilianreinhardt
                                  (Memoriais de Sofia/Zocha)

                    Ela não saberia dizer quando começou o Ministério e o Monastério. O portão verde da cerca de ripas tinha uma pesada  fechadura. Era para ir  e voltar. Quando as  filhas da  ucraniana dona Tilde se aproximavam  para visita-los era uma guerra/ a disciplina do Monastério era  só estudar ...as muralhas se erguiam e o bangalô da rua Goiás ficava ilhado.Restava então subir os olhos às floradas das pereiras e aos bouquets rosáceos dos pessegueiros e viajar no azul ou debruçar-se sobre  a Olivetti portátil que o pai trouxera para se fazer os trabalhos do colégio e datilografar os textos de poesia que aconteciam. Filetes de água brotavam das pedras e os sonhos se faziam companheiros de todos os dias, aportando naquele cais isolado da ilha. Casa-ilha era aquele bangalô da Goiás ladeado de 
águas por todos os lados. A casa da Ucraína parecia um trem, era uma longa-meia-água que quando exalava fumaça pela chamine sentia-se o apito do cheiro longe dos pães de ovos que estavam sendo assados e estava erigida num terreno alagadiço. No banhado do mesmo lado da casa de Zocha, quando um visionário assentou uma casa de tijolos sobre o banhado aterrado, a vila ecoou longe e sentiu-se orgulhosa daquela primeira vivenda de alvenaria. Todos os dias o portão-cancela abria-se às seis horas e fechava às treze horas  e a polaca alcançava o barro da ladeira com seus sapatos de sola de pneu...subia rumo aos sonhos na escola...o ônibus era na avenida em frente à Bizantina...onde floradas de pássaros espiavam  a iniciação de Zocha e suas irmãs ao  Ministério..Um Ministério que começaria a engedrar o suplício de  suas estações tão logo chegasse o rigoroso inverno e a ilha fosse ameaçada pelas turbulências...um dia o pai chegou vestido de negro/era luto pela perda de sua mãe e perseguição política da Ditadura que imperava como regime de governo no Brasil que Zocha conhecia só a palavra  em teoria nos livros  do colégio e lutava para entender os sentidos ..e não sabia que ela era a oculta idéia/fantasma da deformidade humana na  luta  da ganância de poder entre os  homens uns sobre os outros, por qualquer forma ...e por isso à mesa agora faltaria  o pão na modesta casa de rústicas táboas  da rua Goiás ... e a Frau mãe sem saber ler  leria os  roteiros dramáticos por onde saltar com sua população daquela ilha de tantos  sonhos e suplícios...

Lilian Reinhardt
Enviado por Lilian Reinhardt em 26/08/2012
Alterado em 26/08/2012


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras