Salvador Dalí.
TORRES DE PAPEL /becos forenses
No átrio desarquivando, folheando o mundo
entre esses carimbos, marcas,
digitais, espirais,
o mundo rodopia espiralado...
E na ribalta dançam
fragmentos processuais.
Arrazoados, vazias denúncias,
incisos, parágrafos, notas de culpa,
não pedem venia às árias soturnais.
Nesses guetos de papéis,
onde as perspectivas e os juízos se reescrevem,
não há como entregar-se à Chopin ou
a Beethoven,
nem inebriar-se com a luz de Vermeer ou
a loucura e a magia de Dalí,
nem repensar as escrituras de Hamurabi
ou metabolizar os preceitos do Sinai...
Aqui torres não rimam com flores
e eu gostaria que o mundo fosse repintado...
Mas... quem é culpado
desse rebuliço de papéis
de réus sentenciados?!...
A vida plange...plange a vida
enquanto a flanela perpassa a vidraça,
e deus pode bem ser apenas um animal
plangente,
- um oráculo solfejado-
sob a pulsação dessas folhas,
nos autos desse jardim
de búzios alados!.
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Lilian Reinhardt
Enviado por Lilian Reinhardt em 24/01/2007
Alterado em 05/03/2007