|
Pablo Picasso (Spanish, 1881-1973). Les Demoiselles D'Avignon. Paris, June-July,1907. Oil on canvas, 243,9 x 233,7 cm. Acquired through the Lillie P.Bliss Bequest. MoMa. The Museum of Modern Art, New York, USA.
O CUBISMO E A REVOLUÇÃO DO OLHAR
A teoria da arte parece ser unânime quanto a impossibilidade de se estabelecer fronteiras delimitatórias em relação ao surgimento de movimentos estilíscos nos diz Tassinari, sendo para esse autor o movimento cubista de 1911 , fecundo e o mais importante da arte moderna, parâmetro que fez emergir um modelo próprio de sua própria história. Nenhum outro movimento, como o Cubismo, acentua, foi geratriz de tantos outros e de posteriores vanguardas. O interesse cubista assenta-se em sua gênese histórica,pela pesquisa da arte-não ocidental, inicialmente, como a escultura africana e artes primitivas, posteriormente, a pesquisa formal-experimental de Cézanne, o cientificismo de Georges Seraut com o estudo cientifíco das sensações impressionistas e as adoções das rejeições à tradição, pelas obras de Rousseau e Alfredo Jarry. A época cubista , início do século XX , (primeira década), se espalham pela Europa as teorias empiriocriticistas e fenomenológicas. Na França Boutroux defende a interpretação subjetiva das leis da natureza e Bergson formula as suas teorias a respeito da duração e da simultaneidade. Há uma controposição ideológica ao positivismo pelo idealismo e espiritualismo. Dessa forma, se antevê uma imbricante influência de idéias do campo teórico-experimental da época, sobre o movimento, tendo o seu crítico e teórico, Apollinaire, assim afirmado em 1913, em seu manifesto:"a geometria está para as artes plásticas, assim como a gramática está para a arte de escrever". E acrescentava: "Hoje, os cientistas não se atém mais às três dimensões da geometria de Euclides. Os pintores foram levados naturalmente e, digamos, intuitivamente a se preocuparem com novas medidas possíveis do espaço que, na linguagem figurativa dos modernos,são indicadas todas juntas com o termo de quarta dimensão. Assim, da forma como se oferece ao espírito, do ponto de vista plástico, a quarta dimensão seria gerada pelas três dimensões conhecidas. Ela representa a imensidão do espaço, que se eterniza em todas as dimensões num movimento determinado. É o próprio espaço, a dimensão do infinito, e dá plasticidade aos objetos". (1). Assim temos que o movimento cubista se consubstanciaria numa revolução completa, que enfatizando a forma como expressão, seus recursos formais influenciaram as outras artes, como a arquitetura, artes aplicadas, a poesia, a literatura, a música. Fonte imediata da corrente formalista da pintura abstrata e não-figurativa que dominou toda a arte do século XX, os movimentos que lhe foram posteriores advieram de seu tronco, como o Construtivismo, o Neoplasticismo, De Stijl, Orfismo, representando pois ponto de evolução das idéias mais cruciais de uma nova concepção perceptiva que iria emergir da arte do século XX. Críticos, poetas, artístas, compreenderam que ele questionava os pressupostos básicos da tradição da arte ocidental, pressupostos estes vigorantes há mais de trezentos anos. Em verdade foi através do Cubismo, como salienta Tassinari que houve a constatação de que a arte moderna era algo diverso daquela que era até então praticada pelo naturalismo ilusionista. A enorme importância que se atribui à estética cubista, reafirma este crítico, reside na verdade na sua nova e inovadora concepção de espaço. Nunca anteriormente na arte moderna, seres e espaços (figura e fundo) tinham se aberto e se interado uns com os outros e isso só acontecerá com o procedimento cubista ao interromper o contorno da forma e decompor o espaço e forma geometricamente. A pintura então deixa de ser um olhar sobre uma janela renascentista, como um vidro transparente, de perspectiva única, que mostra uma realidade imitada, representada pelo artista através da mímese (cópia do real), para tornar-se um corpo próprio e singular, independentemente das exigências da representação, descompromissado com esta. A obra Les Demoiselles D'Avignon, concebida e pintada por Pablo Picasso, em 1907 continua sendo para muitos autores o marco iniciático dessa revolução estética e o documento pictórico mais importante produzido pelo século XX. Se, com o Impressionismo já temos uma concepção moderna de fragmentariedade do olhar, da percepção, na captação das sensações visuais, este já diluia e difratava a forma e espaço, é com a experimentação Cezaniana que se sedimenta em Picasso a pesquisa geométrica-formal do Cubismo. Mas, se ainda se respeitava no século XIX a integridade tradicional do plano pictórico com seu modelo de representação renascentista, é com o processo cubista da nova concepção de espacialidade que haverá uma brusca quebra deste modelo tradicional de percepção, de representação. Aos cubistas era fascinante a sensação de solidez formal da pesquisa de Cezanne ao sintetizar a forma e ainda reduzi-la à percepção geométrica de cones, cilindros e esferas. Mas, se em Cezanne a cor havia tido preponderância formal na modelagem, esse procedimento é revertido pelos cubistas e contraposto com a pesquisa geométrica, praticando-se e valendo-se de uma paleta quase monocromática. Alguns teóricos da arte distinguem o Cubismo em duas fases proeminentes, sendo a primeira analítica ou de formação e a segunda sintética, de aplicação dos princípios racionais do estilo. Desde o início, o Cubismo já havia rejeitado todo o conteúdo temático de caráter literário, anedótico ou simbólico, tendo a sua estética preocupação em explorar os objetos da experiência comum, do quotidiano, "impregnados de humanidade", como dizia Apollinaire. Com o Cubismo o que a pintura deixará a ver é a fusão das coisas e do espaço. O contorno fechado das tradicionais pinturas naturalistas, sempre foi causa de separação entre os seres e os espaços circundantes. Quando o contorno é rompido ou interrompido esta separação já não é mais possível. Esta não é como diz Tassinari uma invenção apenas de Picasso e Braque. Este contorno interrompido já pode ser encontrado na última fase de Cézanne. Picasso inventa a colagem no final de 1912, dando-se outro passo fundamental na história da arte moderna. Se, por um lado, houve a fusão de coisas e espaço, e também, tal assertiva pode ser insinuada nos impressionistas,pós-impressionistas e no fauvismo , Tassinari considera a colagem,a mais importante invenção da arte moderna. A colagem é um salto, onde coisas e espaços em equivalência vão interagir entre cheios e vazios, abrindo a possibilidade de trazer ao espaço da tela a matéria do mundo real. Uma nova concepção e apreensão da realidade, onde o espaço moderno se configurará a partir da colagem como um espaço disponível a interagir com o espaço do mundo real, através da inserção ao plano bidimensional de elementos retirados da realidade. Assim temos que o Cubismo foi um momento basilar de experimentação estética, na arte , modelando artisticamente, plasticamente e filosoficamente a percepção fragmentada do olhar moderno.
Nota (1) cf Michelli, Mario, in As Vanguardas Artísticas, A Lição Cubista, Martins Fontes, 1991, pp 174
Bibliografia ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Cia das Letras, 1996 CHIPP, H.B. Teorias da Arte Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1996. HARRISON, Charles. Modernismo: São Paulo:Cosac&Naify Edições, 2000. STANGOS, Nikos. Conceitos de Arte Moderna. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. TASSINARI, Alberto. O Espaço Moderno. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2001. MICHELLI, Mario de. As Vanguardas Artísticas. São Paulo: Martins Fontes, 1991. (D. A. reservados)
www.lilianreinhardt.prosaeverso.net http:cordasensivel.blogspot.com http://www.luso-poemas.net/modules/news/index.php?uid=4917 www.poetasdelmundo.com http://hispanoramaliterario2.ning.com/profile/lilianreinhardt http://www.notivaga.com.br/ http:www.abrali.com
Lilian Reinhardt
Enviado por Lilian Reinhardt em 13/11/2006
Alterado em 05/11/2009
|
|