JASMINS DO DESERTO RETRATO DE YOUSSEF RZOUGA POR MARTA SEPÚLVEDA GÓNGORA* /COLOMBIA
Eu quero apresentar-lhes um poeta muito especial no sentido de que rompe com esquemas e adentra as coisas de uma forma delicada, íntima e profunda. Youssef Rzouga nasceu em Ksour Essef, Tunísia, vive na capital de seu país, é jornalista e trabalha como redator chefe da “Imprensa Tunisiana”.Ele escreve em vários idiomas, entre eles árabe, francês, inglês, russo, português, sueco, castelhano mas, sente-se mais à vontade escrevendo em árabe, francês e castelhano. O poeta foi agraciado três vezes com o premio nacional de poesia, obtendo no ano de 2004 o prêmio árabe das letras na Jordânia, pela totalidade de sua obra, estando traduzido em meia dúzia de idiomas, é poeta, escritor e entusiasta gestor da cultura. Rzouga é sem discussão um dos poetas árabes que mais se destaca na atualidade e seu trabalho consegue fazer emergir o existencial das coisas ao descontextualizar o sentido simples de sua natureza , para configurá-lo em aroma, em essência concentrada de si mesmo.
A COMOVEDORA CANÇÃO DE UM HOMEM HONESTO Um homem é mais homem quando diz a verdade a si mesmo. Não é fácil chegar a este ponto das coisas. A vida, a sobrevivência e as necessidades nos acostumaram a disfarces para poder caminhar no mundo. Quase nada conserva a voz inocente da alma e poucos deixam vislumbrar aos demais seus secretos desejos, suas verdades, muitas vezes por medo a parecer débeis ,a ser julgados como covardes. No entanto também sabemos que a luz da verdade é um terror e poucos seres humanos suportam o seu brilho sem ofuscar seus olhares e sem desviar -se dessa luz desconhecida que cresce nos olhos de criança dos homens verdadeiramente honestos. E a poesia é por excelência a expressão primeira da alma humana. Rzouga nos mostra essa transparência interior, inocente e poderosa, desarmando-nos com suas declarações despojadas de egoísmos e nos confronta com suas palavras desarmadas, que são por si próprias mortalmente certeiras e nos atingem o centro do coração. Eis, também, uma poesia em tom de ronda infantil que utilizando-se do recurso da reiteração, ou seja, da repetição indefinida de versos, palavras e idéias toma para si uma
musicalidade contundente e profunda, ex., “dó, ré, mi, fá, sol” e “te dou algo especial”, que encontramos ao largo de vários poemas seus. O poeta, mesmo correndo riscos de parecer um exibicionista da palavra revela-se -nos sem rodeios, sem dissimulação em toda sua sensibilidade, quando convida a amada a “desabotoar minhas asas nervosas/por mil e um atrozes desejos”, e a entregar-se sem preocupação à força libertadora de seu amor por ela, presenteando-a com “algo especial, ‘a possibilidade verde/de viver muito tempo”, ou seja, aquela que só nos dá o amor verdadeiro quando se oferece sem restrições, sem pretensões dominantes e sem o animo mesquinho de possessão do amado. Este poeta recorda-nos coisas fundamentais que esquecemos facilmente, como por exemplo, a necessidade de sermos felizes, a claridade de haver vindo a esta dimensão principalmente para experimentar este estado. Obriga-nos a pensar nos desperdiçados dias que temos vivido em direções opostas a este desígnio e nos equivocado de nossas rotas empreendidas para com a busca de falsos tesouros. Daí a importância da poesia, do ideal que nos transmite quando argumenta sobre Ser e Estar ALÉM DO EGO DOMINANTE, ou seja mais além de nossas insignificantes lutas de poder e destruição. Quão sábios são seus versos quando nos diz: “eu em teu lugar/não te faço nada/basta-me simplesmente, atirar com o gatilho do Eu/e seu revolver” para nos ensinar que nós mesmos somos nossos piores inimigos. Este poema canção, esta canção de viver é música que carrega um poeta honesto em sua alma, um homem valente que não teme a ternura, como alguém disse sobre ele recentemente. É um convite que deveríamos aceitar de imediato para despertar da alienante letargia das rotinas impostas sem sentido, para ouvi-lo quando nos diz “é proibido dormir antes que eu”, ou seja, é proibido morrer em vida, proibido nascer, crescer, reproduzir-se e morrer de tédio. Youssef, como voce diz: “Colombo descobriu a América em 1492” e nós descobrimo-nos agora mesmo, em sua poesia! Miami, 06 de agosto de 2007