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Sensíveis Cordas!

Textos


     
                        PETRUCHO
         
                     Memoriais de Sofia (Zocha)
      

    
(  Petrucho tem  três aninhos e pensa que já  é gente grande “petrucho é cranton"... dizia  sob a safira do céu de seus olhinhos!)
    
      Zocha mira seu rostinho de anjo rosado com cara suja,  vestido de calcinha meio pau,(calça curta), com suspensório sempre caindo, quase derrubando-lhe as calças, narizinho sempre ranhento e   a saudade repica sob a lona do Carroção:


- Petrucho seria um anjo da Senhora de Chestokova? Enquanto isso na cozinha,   Irentcha sua irmã esfrega e esfrega com sabão de soda e pedra a tábua da mesa.

Será que foi nessa mesa que São Lucas  pintou um dia  o retrato da Virgem lá em Chestokova? O anjo Petrucho cresceu, quantos anos luz terá hoje? E  sua irmã Irentcha aquela  polaca magrela
  que tinha as mãos branquelas, sempre vermelhas de lavar louças, roia as unhas e também fazia o terço da capelinha de Chestokova. 


Acho que é de tanto  ver  Irentcha  lavar   pilhas de louças que  aprendi a ter  cuidado com as louças... e mesmo assim quebro pratos!

  A polaca Helena e Yujo Alfaiate são rigorosos na educação dos filhos, é preciso aprender a respeitar e lavar bem as louças  próprias, dizem, para saber respeitar a dos outros...porque as louças são frágeis como a vida!


O jardim de Irentcha era cheio de dálias e cravos...nele cabia a cidade inteira, a única praça, as ruas desertas, nele as flores existiam e respiravam...

Lembro quando, Jagunço, o cachorro caiu no poço, Irentcha magrela e o outro irmão, o Chico polaco, tiveram que se desdobrar e buscar água lá de casa em poço mais fundo para lavar as louças.

Ela chegava da escola com seu guarda pó branco, pernas finas, era alta e já trocava de avental para lavar as louças do almoço. O pai, um polaco de cabelos lisos e bigodes era alfaiate  e tinha atelier na parte da frente da casa.


Ele vivia com uma fita métrica ao pescoço, seu balcão era impecável e sempre concentrado na grande máquina de costura de ferro preto. Mas, eu levava cada susto com aquele manequim vestido com os ternos de casemira prontos no beiral da porta de entrada da alfaitaria...


       Assim, a cozinha da casa do alfaiate sempre tinha que estar com o fogão aceso para abastecer com brasas o ferro de passar roupas para seu atelier  que à época,ainda  na sua casa não tinha energia, esta passava longe na cidade de  Araruna, por isso isso a chaminé da casa de Irentcha sempre fumegava pelos céus...todo o mundo sabia que o Polaco estava trabalhando! Eu ficava olhando...parecia um incensário ardendo...


A casa dela não era coberta de  telhado de "talbinhas", como tantas outras naquela cidade e também não tinha parapeito com gamela fora da janela para Irentcha lavar as louças. Era na pia da cozinha, sob a fria pedra, que o pão de milho e centeio era amassado e que suas mãos branquelas  lavavam as louças da família, por isso  suas mãos eram judiadas,ásperas,  sem esmalte nas unhas, mas como as bochechas de Petrucho eram rosadas e a cozinha sempre asseada.

Mas, quando Petrucho  gritava com fome, balançava com suas asas a casa inteira  do polaco Yujo alfaite!
 
 
 
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Lilian Reinhardt
Enviado por Lilian Reinhardt em 18/05/2010
Alterado em 27/08/2013


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