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                             Notações estéticas (III)

 

                                    

                   Diz Foucault em sua reflexão  sobre Magritte que a exterioridade estética tão clara e visível do grande pintor em suas obras é simbolizada por uma relação muito complexa e aleatória que o mesmo faz entre o quadro e a sua nomeação como título, quando o dá a conhecer ao mundo. Daí haver uma distância para a leitura concomitante do leitor como expectador ao mesmo tempo, fazendo com que surja abruptamente no espaço perceptivo do olhar, no momento da apreensão estética (contemplação schopenhauriana),   a imagem além do horizonte das palavras. Tal assertiva estética é muito apropriada para um processo de analogia se nos colocarmos também diante do poema como uma obra  estética/gráfica significante com seus signos e na apreensão intelectiva e sensória da contemplação interior refletirmos diante da nomeação  da verdade da tela poética com o título que se nos apresenta. Desse embate tão singular emergimos à teoria estética entre figura e fundo como um movimento relacional tão ambíguo quanto a verdade poética/ética que  a obra contém e possa nos passar, na sua relação título e conteúdo.Nesse espaço à deriva ocorrem estranhas relações de pensamento e sensações diz Foucault, a respeito de Magritte quando utilizava os títulos de suas obras para impedir de situar seus quadros em região familiar reconhecível e assim provocar inquietação no expectador, ao contrário do pintor Paul Klee que entrecruzava espaço sem  qualquer preocupação de denominação geométrica, entre figuras e signos  conduzindo o expectador por outros caminhos simbióticos de sua percepção. Magritte mina a disposição tradicional do espaço, corroendo a  velha pespectiva tradicional do olhar da pirâmide com seu  ponto de fuga, fazenda-a carcomir e ruir, com desdobramentos singulares da obra. Magritte assim desdobra o jogo das palavras e as imagens, com os títulos muitas vezes como diz Foucault inventados à posteriori, fazendo interação entre palavra e imagem onde as vezes o nome de um objeto substitui uma imagem e uma palavra pode tomar  o nome de um objeto da realidade e  numa proposição uma imagem pode tomar o lugar de uma palavra. Assim, a malha, a teia do olhar no mundo?  Na tela poética é a palavra da mesma substância que seus signos, que suas imagens?

 

 Bibliografia
 Foucault, Michel. Isto não é um Cachimbo. São Paulo: Paz e Terra, 2002
Barboza, Jair. Schopenhauer. São Paulo: Jorge Zahar Editor, 2003
 

 

Lilian Reinhardt
Enviado por Lilian Reinhardt em 07/10/2008
Alterado em 25/02/2010


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