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Kandinsky/primeira aquarela abstrata da arte moderna/1910
A SINESTESIA DA ARTE E A PRIMEIRA AQUARELA ABSTRATA COM KANDINSKY NO MODERNISMO
A sinestesia entre música e pintura impregnou a arte do pintor russo Vassily Kandinsky e de muitos outros artistas em fins do século XIX e inicio do século XX, conforme Mel Gooding. Diz esse autor se reportando ao crítico de arte inglês Walter Pater, que toda arte aspira à condição de música e que seria a música a arte mais puramente abstrata, de linguagem puramente sensorial e tocante mais direta ao espírito do ouvinte. Schopenhauer elenca em sua monumental metafísica do Belo a música como essa corolária. Mas, Gooding ainda enfatiza citando Baudelaire com um poema através do qual o poeta descreve as correspondencias sinestésicas entre os diversos fenomenos sensoriais... "...como ecos prolongados que se confundem ao longe, em uma escura e profunda unidade, tão vasta quanto a noite e quanto a claridade, os perfumes, as cores, os sons se harmonizam..." Essa realidade sensorial que transcende o mundo sensível além da compreensão racional era denominada por Kandinsky como "alma". Para ele a elaboração da forma sensível pela pintura compreendia-se como a música, a expressão, a vida interior e direta do artista e seus mais intensos e profundos sentimentos e intuições. E, assim, a pintura deveria criar formas autônomas que a liberaria da mera representação das formas da figuração. Dessa sua aspiração nasceu no pintor o desejo na arte moderna de impregnar de ritmo a pintura, de construção matemática abstrata, de notas repetidas de cor, de colocar em movimento as cores, em síntese, de abstrair. Kandinsky em Moscou durante o período revolucionário conviveu com a personalidade mítica e carismática de Malevich e foi profundamente afetado pelas experimentações artísticas do fim de 1910 na Rússia. Foi posteriormente professor da Bauhaus, na Alemanha de Weimar juntamente com Paul Klee. Durante os anos e 1910/1914 produziu pinturas que via como correspondências às formas musicais, ele fazia distinções entre Impressões, Improvisações e Composições. Gooding esclarece que o místico em Kandinsky tinha origem russa ortodoxa e nos ensinamentos herméticos da teosofia de Rudolfo Steiner. Para Kandinsky todas as artes emergem de uma raiz única, diferenciando-se apenas pelo meio de expressão. Enfatizava o parentesco entre a pintura e a música, afirmando que leis enigmáticas e precisas de composição sempre destroem as diferenças, vez que se apresentam sempre como mesmas em todas as artes. Assim dizia observando as correspondencias fixadas por Scriabin poder-se ouvir a cor e ver o som. Consoante o historiador Argan, em 1910 Kandinsky já possuindo um trabalho reconhecido como pintor figurativo, inaugura o ciclo histórico da arte não figurativa no Modernismo. Ora, a arte ocidental vinha de uma tradição pictórica figurativa, e caminhando gradualmente à falencia da representação através dos inúmeros movimentos e estilos então subjacentes. A primeira abstração da arte moderna segundo Argan é assim intencionalmente um rabisco aquarelado por Vassily Kandinsky. Se o Cubismo à mesma época decompõe espaço e tempo de forma analítica, intelectual, linear, Kandinsky faz a experimentação pictórica das sensações em sinestesia com a linguagem da música, dos sons, intensificando e amalgando sincronias de tons e cores e movimentos entre pautas e sons. O pintor faz segundo o aludido autor, uma experimentação pictórica de primeiro contato do ser humano com um mundo do qual nada sabe, nem se é habitavel. Transmuta os gestos em signos, se propõe a analisar a experiência estética em sua origem e isto importa em fazer-se analogias com o comportamento da criança, a qual detém a estrutura primária da operação estética. Não tem Kandinsky a intenção de fornecer subsídios como diz Argan para estudos psicológicos experimentais sobre o assunto, mas desta sua experimentação estética inicia-se uma longa pesquisa plástica. Em obras posteriores como as famosas improvisações seu imagético abarcará complexidades múltiplas de ritmos. O pintor entende que a experiência estética não compreende somente um conhecimento intelectivo dos objetos do mundo, mas, sim uma atividade que se pratica sobre a realidade percetiva de cada um. Para Kandinsky a arte na Modernidade segundo Argan resgata o homem no limite de sua instrumentalidade, indicando-lhe um tipo de experiência global de sua realidade, na realidade, onde é possível buscar-se (a si)...
Bibliografia Argan, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Cia das Letras, 1996 Chipp H.B. Teorias da Arte Moderna. São Paulo: Martins Fontes,1996 Gooding, Mel. Arte Abstrata. São Paulo: Cosac&Naify, 2001
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Lilian Reinhardt
Enviado por Lilian Reinhardt em 15/08/2008
Alterado em 05/11/2009
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