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Sensíveis Cordas!

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                         DEPOIMENTO PESSOAL ( xxii)
                        
                                            (memoriais de Sofia (zocha))


                   O seu Genésio guarda civil hoje faz plantão de vigilância entre as cercanias de ferro com lanças ponteagudas que guardam o casarão da Justiça,
na Comarca. Este prédio do Forum foi remodelado, era uma antiga vivenda em estilo colonial português, edifício raro nesta colonização de origem  italiana, alemã e polonesa por aqui, mas, conserva seus janelões enormes agora pintados de verde musgo, cujas imensas folhas rústicas se abrem sobre a calçada no encruzo de duas silenciosas ruas da aldeia. Reverbera de sua fachada os rescaldos das sombras que alinhava. A grande varanda frontal é agora revirada ao avesso e centrada  num pequenino pátio interno, um atrium onde singelas flores parecem tingir o olhar dos silenciosos, aflitos   e habitantes singulares que deixam suas marcas entre as páginas dos cadernos de processos que se amontoam pelas prateleiras. Meu olhar pelas prateleiras deambula entre as traças, no mofado das horas à expectativa morna dos olhos dos que sentados nas bancadas do átrium, aguardam a modorrenta hora do embarque às audiências. Nesse porto de transgressões as cargas da aflição e da insolitude das impossibilidades de articular o que não escrito poderia ser o escrito.  O descaso, a vaidade e a prepotencia dos oficiais que trabalham  nos portais de embarque.  Sinais caligrafam verdades e mentiras, testemunham o nunca provável,lacram o testemunho oculto por detrás das palavras, do indizível nunca dito e mal dito!   Nas caixas como gavetas funerárias guardam-se vidas, destinos, gritos, pedidos,reparações, páginas e páginas se acotovelam a serem manuseadas e decididas por outras vidas.Indelével e insustentável é o peso da minha angústia que não consegue alinhavar o multifacetado escorso dessa informe massa. 
              De soslaio, pelo canto de uma das janelas vejo a figura de uma mulher sentada  à frente do escrivão de cachecol branco no pescoço. A sala de audiências é constrita e parece assemelhar-se a um pequeno púlpito, vez que sua alongada mesa estranhamente se transmuta aos meus olhos enviezados, como uma igreja, uma nave românica, com corte transcepto, terminando ao centro com um ábside, onde o santo maior fica exposto e adorado. Respiro fundo, mas, lá o que vejo  é a figura lívida de um homem folheando um grosso volume  de autos. É o Juiz e tem os olhos baixos, distantes da mulher que remexe com uma serenidade estranha   sua bolsa e depõe sobre a mesa alguns objetos, os quais parecem não estarem sendo visíveis para ninguém a não ser ela. Indiferente, atrás dela um homem que deve ser o seu defensor rabisca algumas folhas nervosamente.... De costas, se desenha outra figura que não vejo o rosto, sentado no lado  oposto. Genésio o guarda, do meu lado, no exterior de mim, me olha com desconfiança. - Ainda aquela audiência? - pergunto-lhe. - Sim, responde. Daquela mulher....que ninguém sabe o nome.... E esboça uma  gargalhada que contém com uma das mãos e uma tossida forçada. - Ah, respondo...sei...  Vejo em sua mão algo estranho. -  Umas flores?!  pergunto-lhe... -Não!!! Um cacetete!!! - responde  laconimente  e friamente me olha seco, impafioso!  - Interessante, pareceu-me um bouquet de flores... afianço-lhe - Não!!! É uma arma, responde afirmando grotescamente e empunhando a pretensa adaga! - Entendo...retruco. Volto a olhar a sala de audiências pelo canto da janela. O escrivão impassível tem os olhos fixos na mulher à sua frente. Ao meu lado sinto a inquietação do guarda Genésio diante da minha espreita. - Audiência muito calma hoje... - assento-lhe  - É... frorida! - ... assevera se afastando e escarnecendo-me com seu riso mordaz,  corroendo as sílabas entre os dentes ....Sinto-lhe o descaso , me envolve com um lancinante olhar de alto a baixo, como a mensusar  o peso das minhas vestes. O tempo é frio, guardo-me entre mantas, meus pés afundados em grossas meias que todo inverno teço manualmente, num frutífero legado de tecer herdado de minha varoa mãe. Mas, meus olhos repicam ao alto e vejo no poste de iluminação pública no encruzo dos fios de alta tensão, com a boca à leste para o sol, uma construção do joão do barro, e sinto o peso da   decomposição do pano  de  fundo da minha tela, à janela do mundo que me figura as faces das minhas sombras. Tenho dolorosas sensações e vertigens naquela fresta, naquele momento do meu desvão sinto o afundamento dos pés e desraizamento das minhas células.  Na sala de audiências a depoente levanta a cabeça e me vê e e eu sentada, da cadeira  vejo quem  me olha ?! ....


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Lilian Reinhardt
Enviado por Lilian Reinhardt em 25/06/2008
Alterado em 25/07/2008


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