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Sensíveis Cordas!

Meu Diário
21/02/2011 23h11
AS TRÊS COROAS/GUILHERME DE ALMEIDA

As Três Coroas

                             Guilherme de Almeida

 

Na sala do museu, as três coroas conversavam.
Uma (a que era de ouro) disse às outras:
"Eu fui de um poderoso rei. E curvei meu peso como uma pluma, ao peso bom das minhas jóias tutelares.
Tive um reino a meus pés, com soldados e teares e torres brancas e altas como luas.
Fui tudo: rica, poderosa e bela.
Tive um reino a meus pés e um céu sobre nós dois.
"Eu nasci na Grécia. Eu fui o gesto verde que abençoa.
E inatingível para milhares, como uma promessa, gesticulei aos heróis e aos poetas do mundo.
E junto a mim, eles lutaram bravamente, estenderam-me os braços, exauriram suas forças, desfaleceram e passaram.
O amor passou também com froutas e lanças.
E ergueu também seus braços para os meus...
Mas o som cessou... e a glória efêmera passou.
Nem sei qual foi a mão que me colheu, porque logo eu murchei".
Então a terceira coroa, a coroa de espinhos, disse às outras:
"Eu fui um espinheiro dos caminhos.
Rejeitado, vivi só. Sempre só, escondendo veneno sob o pó.
Mas, um dia, enrolaram-me à cabeça de um homem, que era como um sonhador, e belo como a poesia, e puro como o fogo.
E sofrendo, e sofrendo, ele morreu comigo.
Só então, fiquei sabendo que eu valia mais que tesouros e tesouros, mais que todas as coroas de ouro e todas as coroas de louro.
Porque só eu ultrapassei a efemeridade, a vaidade, a glória humana.
Porque só eu não coroei reis e heróis que se foram e foram esquecidos.
Só eu fiquei, porque eu acenei para a glória eterna.
Só eu que ainda não murchei".


Publicado por Lilian Reinhardt em 21/02/2011 às 23h11

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