DEPOIMENTO PESSOAL (11)
(memoriais de Sofia (zocha))
À minha frente o escrivão no computador:
- A senhora pode sentar-se aqui...por favor?! Arredam-se cadeiras, olho no rosto encovado do menino de vinte e poucos anos, com barba mal feita, cachecol branco torneando o pescoço, lábios partidos e amarelecidos de frio e nicotina.
- Qual o seu nome?! me pergunta seco.
- Fixo-lhe os olhos, sei que ele não me vê, nem eu o vejo... Ah...meu nome? Qual seria mesmo o meu nome? Sinto os pés gelados, a redoma inteira do meu corpo transpira o gélido tormento frio da angústia. Lembro-me de Kafka.
- Seu nome senhora?! Sua carteira de Identidade, por favor?
Reviro a bolsa, reviro...reviro tudo com meu olhar. A sala branca, gélida...uma figura escura debruçada sobre um grosso volume de versos no centro da mesa num patamar maior parece ser profundamente distância nessa câmara. Difícil achar a identidade...não acho...reviro...reviro meu olhar...onde estaria eu dentro da minha bolsa...e não me encontro...não me encontro!!!
E qual seria o meu nome mesmo?! Sinto uma liquidez calcinante de placentas lamber-me da cabeça aos pés e um esquizofrenico torpor de uvas incestas na boca, mas,se não estou dentro daquela bolsa, nesta sou e estou só com alguns pertences que não me pertencem, arrendos, tudo arrendado...semoventes como eu, camelo, peixes, agulha, pedra, fósseis, memórias, verbos...viu?! E, o meu nome...ah...um momento!
- Chamo-me Dor...já lhe passo a identidade!
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