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Sensíveis Cordas!

Meu Diário
13/05/2008 14h38
ENTRE CORRENTES UMA ELEGIA PARA NIKOLAO




       ENTRE CORRENTES  UMA ELEGIA PARA NIKOLAO


         Meio longe ou meio perto, só uma mancha imensa na retina de borra na tela esmaecida. Não sei se passo perto ou se passo longe, se fico em cima ou fico embaixo, se o banco é alto, então minha visão é abaixo da linha do horizonte, mas a grande bacia da água é muito grande, uma imensa cratera e gira o meu olhar como em decantação, não consigo segura-lo e  a figura daquele homem como uma grande estátua me horroriza. Com dificuldade olho a grande mesa, há leite, pão feito em casa, canecas esmaltadas, mas, não consigo ve-la...não a vejo, os pés de madeira bruta sobem aos céus como grandes colunas. Me agarro com dificuldade sobre o banco. Aquele homem ao longe tem uma barba muito longa, como uma velha árvore tombada, permanece naquela posição imóvel. Os circunstantes arrastam seus enormes pés...ouço-lhes as correntes, há como é terrível ouvir os sons de correntes, correntes que degolam, assim o matadouro próximo daqui tá fazendo agora, correntes que se usam em pescoços com santinhos, correntes que em cadarços amarram sapatos que afundam pregos em sua sola...há, o  solado dos sapatos e o velho sapateiro Lucidório que mora no bairro Jardim Paulista, há alguns quilometros daqui do escritório...com seus sapatos consertados, congelados naquelas prateleiras com cheiro de cola, tinta e fungo de pés...os pés que são suportes e arrastam correntes...mas a barba enorme daquele homem sentado continua fustigando o meu olhar como uma imensa mancha que o tempo, nem as águas as chuvas conseguem diluir...sua barba é uma enorme corrente serpenteando as dobras do instante. E eu, não consigo segurar o instante, a palavra foge, se esfuma, apenas mal a ouço e já a vejo despregar-se no tempo, mas, a grande mancha se reconfigura na tela e revejo com claridade atrás da palavra o velho alemão, Nikolao,meu avô, com suas longas barbas, os pés dentro da bacia da água cheia de sangue e uma ferida profundamente escavada sangrando-lhe intermitentemente, de uma das colunas e suas pernas...No vazio do espaço a formatação das linhas das águas que se esvaem, a barulheira na farmácia aqui ao lado, o cinza recaído sobre o gramado da manhã, as correntes se arrastando e se despetalando no mesmo ritmo...tudo sempre se esfumaça, se rasga, se arrasta!!!


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Publicado por Lilian Reinhardt em 13/05/2008 às 14h38

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