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Sensíveis Cordas!

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NAQUELA  CASA DO  TEMPO... 
                 

              (Reverberas de Sofia (zocha)/Carroção do Tempo(dos polacos))

                   

             O pequeno jardim de ripas lancetadas era amordaçado sempre por uma fechadura enferrujada no portão. Sob o céu desnudo,  os olhos  vesgos do buraco da fechadura pareciam ter pouca importância naquelas
cercanias que   guardavam aquela casa entre os árvoredos da rua Goiás. A calçada de cimento descascado levava até a varanda de tijolos, no umbral das horas...
        Ouço o cheiro do bolo recheado de creme de abacaxi revestido de cobertura de clara de neve
sob a singela mesa de fórmica vermelha com bolinhas douradas, piso correndo entre as pétalas vermelhas caídas ao chão, o chão  tem o ventre quente, a pereira tá carregada de flores embora das roseiras pendam as dores,
os cravos cozinham rápido na panela de pressão,a missa bizantina toca o sino na matriz de dourada cúpula, Leontcho me olha de sua casa do outro lado da rua,os padres  na Igreja Católica tomam seu café
gordo na cozinha da casa paroquial em frente à Igreja, sempre nos davam santinhos e nós com fome,  não tínhamos em casa o que comer, frestamos à sua porta e levamos corridão da velha beata dona Júlia. Vimos os queijos redondos sobre a mesa, pareciam grandes óstias...Mas,ao lado do bangalô de madeira,  espreitam-nos os olhos da menina Soniasz,
sempre pronta a lancetar-nos  contra
as filhas do seu Emídio, o crente  em constante vigília...e cascalhar a rua Goiás de cacos de vidros, cuidando sempre das  atenções de Tchenko.Sob as cercas de ripas, Florami, sua mãe,faz a peregrinação diária no jardim de cravos,  solitária, acariciando com as mãos
esquálidas os olhos fundos nas covas de seu rosto de cera , parece afundada no molde de sua  argila, não consegue compreender como as abelhas modelam com o corpo a própria casa. A sogra de  buço crescido carrega os arreios daquele mundo...Mas, do lado de cá da fronteira, sobre o sofá novo da salinha desnuda, que como um santuário apenas guarda a televisão nova Empire com pés ponteagudos, pode estar o chapéu de camurça cheiroso  de meu pai...Quem sabe terá chegado  à noite, com sua maleta de viagem e seus pullovers de tricot  com olor tão estrangeiro para mim...No guarda roupa de pinho envernizado, não há roupas suas... mas, meus olhos bastardos  estão a sentir-lhe o cheiro ...Sobre a mesa do tempo um copo d'água hoje dobrável...alguns códigos escrevem agora esses poemas descartáveis...Meus olhos parecem descartáveis, também ,e engolfam , passantes, o avesso do outro lado da rua do agora, pingam os poemas, a gota contorcida, que sobre o branco papel infringe e delita  reincidencias ...




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Lilian Reinhardt
Enviado por Lilian Reinhardt em 16/04/2008
Alterado em 18/04/2008


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