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Daumier. Queremos Barrabás (Ecce homo?)
HONORÉ DAUMIER E UMA ESTÉTICA DA CARICATURA SOCIAL COMO DENUNCIA MORAL

         Para Argan, o belo na mordenidade  é a sensibilidade e não o belo da natureza, visto que a natureza culturalmente falando-se não é moderna, então o belo passa a ser uma qualidade de natureza moral à buscar-se na sociedade, aquela que distingue  a média, acima da vulgaridade. Assim, o belo para esse autor é sempre um estranho, porque um ideal e o artista um idealista.  O belo pode não encaixar-se numa categoria formal em si, mas, pode-se discerni-lo de tudo o que é habitual, do dito normal, da média. Daí o cômico e o feio extremados tornarem-se belos, daí o interesse de Baudelaire, o maior crítico e poeta do século XIX para Argan, pelos desenhistas, caricaturistas,  pelas sátiras que extraem-se das poses  do quotidiano , pelas  crônicas e  paletas que cortam-se das horas, na correnteza do tempo inexorável da ampulheta da consciência humana. Daí o mistério dos literatos como Nicolai Gogol, considerado por Carpeaux como o pai da literatura de acusação na Rússia, no século XIX, introdutor do realismo nesse país, embora sendo ucraniano, figura complicada, mixto de satírico e profeta, de humorista e místico que segundo esse mesmo autor não foi paradoxalmente realista, mas fez caricaturas monstruosas e burlescas da vida russa, como as que caracterizou particularmente na sua maior e inacabada obra denominada Almas Mortas, que como Daumier também expressa a nova tendencia realista, pós romantismo, que cunhou a arte e literatura em meados do século XIX. Mas,  Honoré Daumier,  também, foi amigo de Honoré de Balzac e como ele escreveu  dia após dia sua Comédie Humaine. Desenhista, pintor, escultor, cariacturista, melhor do que Balzac, segundo Argan soube ver o povo como vítima do poder. O Expressionismo encontra   seu precursor atávico em Daumier, mas, a  caricatura social, política não foi inventada por ele, porém já tem uma expressão dramática e moralista dentro da história contemporânea nas gravuras do espanhol Goya. Mas, Daumier enxuga e intensifica como diz Argan o signo visual. Procura despertar com sua arte no expectador o estímulo moral. A imagem  deixa de ser representação de um fato ou narração, mas, a expressão moral  enxugada do fato, quando não do drama do burlesco, do sátiro. Daumier segundo Argan via nas relações politizadas da sociedade uma forma moderna de moral. Foi o primeiro a valer-se da imprensa como meio de comunicação de massa, fez extremadas críticas  sociais contra o poder na França e pelo desenho da caricatura chamada " Gargantua ," obra  contundente que mostra o rei Felipe II engolindo sacos de dinheiro do povo  teve que cumprir seis meses de prisão. Notáveis os seus excertos litográficos com as paródias sobre os tribunais, gente de Justiça, julgamentos. Nada lhe escapava da burlesca ribalta, na atemporalidade das idéias e da arte, ontem, como hoje,a flama no lusco-fusco sob a escura caverna!...

 
Bibliografia:
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. Cia das Letras.SP:1988
JANSON, H.W e JANSON . História da Arte.A. Martins Fontes. SP: 1987


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Lilian Reinhardt
Enviado por Lilian Reinhardt em 28/01/2008
Alterado em 05/11/2009


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